quarta-feira, 14 de março de 2012

O que é ética hoje ? *

Sem uma discussão lúcida sobre a ética não é possível agir com ética
Marcia Tiburi


A palavra ética aparece em muitos contextos de nossas vidas. Falamos sobre ética em tom de clamor por salvação. Cheios de esperança, alguns com certa empáfia, exigimos ou reclamamos da falta de ética, mas não sabemos exatamente o que queremos dizer com isso. Há um desejo de ética, mas mesmo em relação a ele não conseguimos avançar com ética. Este é nosso primeiro grande problema.

O que falta na abordagem sobre ética é justamente o que nos levaria a sermos éticos. Falta reflexão, falta pensamento crítico, falta entender “o que é” agir e “como” se deve agir. Com tais perguntas é que a ética inicia. Para que ela inicie é preciso sair da mera indignação moral baseada em emoções passageiras, que tantos acham magnífico expor, e chegar à reflexão ética. Aqueles que expõem suas emoções se mostram como pessoas sensíveis, bondosas, crêem-se como antecipadamente éticos porque emotivos. Porém, não basta. As emoções em relação à política, à miséria ou à violência, passam e tudo continua como antes. A passagem das emoções indignadas para a elaboração de uma sensibilidade elaborada que possa sustentar a ação boa e justa - o foco de qualquer ética desde sempre - é o que está em jogo.

Falta, para isso, entendimento. Ou seja, compreensão de um sentido comum na nossa reivindicação pela ética. Falta para se chegar a isso, que haja diálogo, ou seja, capacidade de expor e de ouvir o que a ética pode ser. Clamamos pela ética, mas não sabemos conversar. E para que haja ética é preciso diálogo. E por isso, permanecemos num círculo vicioso em que só a inação e a ignorância triunfam.

Na inanição intelectual em voga, esperamos que os cultos, os intelectuais, os professores, os jornalistas, todos os que constroem a opinião pública, tragam respostas. Nem estes podem ajudar muito, pois desconhecem ou evitam a profundidade da questão. Há, neste contexto, quem pense que ser corrupto não exclui a ética. E isso não é opinião de ignorantes que não freqüentaram escola alguma, mas de muitos ditos “cultos” e “inteligentes”. Quem hoje se preocupa em entender do que se trata? Quem se preocupa em não cair na contradição entre teoria e prática? Em discutir ética para além dos códigos de ética das profissões pensando-a como princípio que deve reger nossas relações?

Exatamente pela falta de compreensão do seu fundamento, do que significa a ética como elemento estrutural para cada um como pessoa e para a sociedade como um todo, é que perdemos de vista a possibilidade de uma realização da ética. A ética não entra em nossas vidas porque nem bem sabemos o que deveria entrar. Nem sabemos como. Mas quando perguntamos pela ética, em geral, é pelo “como fazemos para sermos éticos”, que tudo começa. Aí começa também o erro em relação à ética. Pois ético é o que ultrapassa o mero uso que podemos fazer da própria ética quando se trata de sobreviver. Ética é o que diz respeito ao modo de nos comportamos e decidirmos nosso convívio e o modo como partilhamos valores e a própria liberdade. Ela é o sentido da convivência, mais do que o já tão importante respeito do limite próprio e alheio. Portanto, desde que ela diz respeito à relação entre um “eu” e um “tu”, ela envolve pensar o outro, o seu lugar, sua vida, sua potencialidade, seus direitos, como eu o vejo e como posso defendê-lo.

A Ética permanece, porém, sendo uma palavra vã, que usamos a esmo, sem pensar no conteúdo que ela carrega. Ninguém é ético só porque quer parecer ético. Ninguém é ético porque discorda do que se faz contra a ética. Só é ético aquele que enfrenta o limite da própria ação, da racionalidade que a sustenta e luta pela construção de uma sensibilidade que possa dar sentido à felicidade. Mas esta é mais do que satisfação na vida privada. A felicidade de que se trata é a “felicidade política”, ou seja, a vida justa e boa no universo público. A ética quando surgiu na antiguidade tinha este ideal. A felicidade na vida privada – que hoje também se tornou debate em torno do qual cresce a ignorância - depende disso.

Por isso, antes de mais nada, a urgência que se tornou essencial hoje – e que por isso mesmo, por ser essencial, muitos não percebem – é tratar a ética como uma trabalho da lucidez quanto ao que estamos fazendo com nosso presente, mas sobretudo, com o que nele se planta e define o rumo futuro. Para isso é preciso renovar nossa capacidade de diálogo e propor um novo projeto de sociedade no qual o bem de todos esteja realmente em vista.


* Publicado no Jornal O Estado de Minas, Domingo, 22 de abril de 2007

domingo, 4 de março de 2012

Mapas imaginários de Goiânia

Durante o mês de novembro de 2011, os alunos de Leitura Crítica das Mídias foram desafiados a se tornarem cartógrafos da cidade de Goiânia para a realização do projeto "Mapas imaginários: um olhar diferente sobre a cidade de Goiânia".

Na perspectiva de que novas mídias produzem novas espacialidades, os alunos munidos com celulares, câmeras digitais e utilizando a ferramenta Google Mapas elaboraram 10 mapas com itinerários diferentes, alguns inusitados e outros reveladores.

Apesar dos resultados híbridos, é possível notar que os mapas seguiram três tendências, sendo que na maioria dos casos, pelo menos uma foi mais preponderante. Temos os mapas de caráter etnográfico, que trazem personagens reais captados (em fotos e vídeos) enquanto transitavam por lugares comuns e cotidianos ou estavam neles inseridos. Outros mapas descrevem rotas que servem como novos guias para quem quer se achar ou "se perder". E ainda, os mapas que fazem uma espécie de recorte investigativo em um determinado lugar da cidade, buscando encontrar marcas que ajudem a revelar um pouco da alma daquele espaço.

Os mapas
  1. A avenida Goiás viva - Marcos, Jadson e Diou
  2. Os trabalhadores invisíveis da Avenida Anhanguera - Lidianne, Kellen e Ana Kamila
  3. Lazer no Garavelo - Vanessa Goveia, Victor, Lorena e Gabriel
  4. Trajeto temporal para UEG - Pablo, Thomaz e Daniela
  5. Faculdades de Comunicação e o mercado de trabalho - Micael, Tamara e Jefférson
  6. Novo Mundo: um mundo de igrejas - Vitória e Thalita
  7. Zona de convivência próxima a faculdades - Antônio, Ernesto e Gusthavo
  8. Goiânia alternativa - Vanessa Perotoni, Ricardo e Kássia
  9. Avenida Rio Verde - Matheus e Débora
  10. Nada do que foi será - Tayrini e Flávia
Um mapa

A Avenida Goiás Viva
Não vá ao Flamboyant - Vá à Avenida Goiás
A vida pulsa na Avenida Goiás.
É preciso saber ver e sentir. É preciso parar quando o sinal fechar, é preciso deixar quando o sinal abrir. É preciso escrever no mapa, é preciso beijar o chão, mas cuidado... É preciso andar pelo quadrado e riscar os becos.
Autores: Marcos, Jadson e Diou

Para ampliar o mapa é só clicar sobre ele duas vezes. Para navegar pelo mapa pressione o cursor do mouse sobre o mapa e arraste. Se preferir visualizar em um mapa maior, é só clicar no link no fim da página.



Visualizar A Avenida Goiás Viva em um mapa maior